Primeira quinzena de 2023 começa com reservatórios cheios para abastecimento de água e de energia

O Brasil começou 2023 com uma situação diferente de anos anteriores nos reservatórios de abastecimento de água e de geração de energia. A chuva que caiu em várias partes do Brasil nos últimos dias obrigou usinas hidrelétricas a liberar água sem gerar energia. As informações são do ONS, o Operador Nacional do Sistema Elétrico.

O vertedouro de Furnas precisou ser reaberto depois de 11 anos. O volume útil do reservatório está em quase 90%.

A hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior do mundo, também abriu algumas das comportas depois de 15 meses. Metade das 160 usinas integrantes do sistema interligado nacional está com os vertedouros abertos - eles servem para liberar o excesso de água, e controlar o nível dos reservatórios.


“As chuvas tão acima da média em praticamente todo o país, o que tem feito os níveis dos reservatórios das hidrelétricas se elevarem rapidamente. Os reservatórios de todas as regiões do país já superam 60% no mês de janeiro", explica Mauricio Tolmasquim, professor da Coppe/UFRJ.
A redução no consumo de energia é outro fator que influencia a decisão. Em Itaipu, quatro das 20 turbinas estão paradas porque a demanda está baixa.

“Se eu tivesse carga, demanda para essas unidades geradoras, provavelmente o vertedouro não estaria aberto. Seria aproximadamente duas unidades geradoras que eu conseguiria estar rodando com toda a água que está sendo vertida agora”, resume o Rodrigo Pimenta, gerente do Departamento de Operação de Itaipu.

A quantidade de água impressiona, e é possível ver bem o volume em um local aonde os turistas não podem chegar. Trata-se de uma área técnica a que a equipe do Jornal Nacional teve liberação para ver e sentir a força da água, onde passa 1,7 milhão litros de água por segundo. É mais do que a vazão média das Cataratas do Iguaçu. Por causa da força, a água que bate nas pedras sobe de volta, criando uma espécie de garoa. A previsão é que o vertedouro de Itaipu fique aberto por dez dias.

“Estamos em uma situação bastante distinta da de 2021, quando nós vínhamos de um período de chuvas muito ruim e que os reservatórios das hidrelétricas ficaram vazios, e quase nós tivemos que racionar no país. Atualmente, estamos vivendo uma situação oposta. A previsão é justamente que até final de janeiro vai continuar aumentando o nível desses reservatórios . Então vai continuar uma boa vazão nas hidrelétricas" , destaca Mauricio Tolmasquim.
Chuva traz alívio para os reservatórios das hidrelétricas de todo o país
A distância até a água diminuiu e alguns sinais de escassez desapareceram.

“Tinha um banco de areia, um banco de terra, que foi utilizada na construção da barragem. Era possível avistar há dois anos”, conta Emerson Martins Moreira, gerente de departamento de recursos hídricos.
E isso quer dizer muito no caso do reservatório que abastece a maior região metropolitana do país. Há exatos dois anos, quando o Jornal Nacional esteve no Sistema Cantareira, a 130 quilômetros da capital paulista, encontrou um cenário considerado preocupante.

Nesse início de ano, a situação é bem diferente. A régua que a gente mostrou na reportagem, que não é essa aqui, é uma que fica bem mais atrás, a gente não consegue ver. Ela está completamente encoberta. Só na represa Jaguari, a principal do Sistema Cantareira, a água subiu mais de 2,5 metros.


De 2021 a 2023, o índice de armazenamento de água passou de quase 41% para 48,5%. É o maior nível nos últimos seis anos. A recuperação dos mananciais significa um pouco mais de tranquilidade para quem fornece e para quem consome essa água.

A chuva mais intensa neste verão, tem mudado a paisagem e tem ajudado a dar fôlego ao sistema reservatórios que abastece mais de 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo.

A chuva também trouxe alívio para os reservatórios das hidrelétricas de todo o país. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, o nível de armazenamento em um ano aumentou em três das quatro áreas administrativas.

As chuvas em maior quantidade chegaram por fenômenos meteorológicos como o La Niña, uma espécie de bônus momentâneo, dizem os especialistas.

"Em fevereiro, março ou abril, esse fenômeno deve desaparecer. Estação chuvosa corresponde a 80% do total de chuva que nós temos durante o ano. Então, naqueles meses de estiagem - maio, junho, julho, agosto -, as chuvas mesmo que sejam acima da média, estamos falando de volumes muito pequenos. Então, a água que nós teremos disponível para passar a estação seca será aquela que nós tenhamos no final da estação chuvosa”, explica Marcelo Seluchi, coordenador-geral de operações e modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais.

O professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo lembra que as mudanças climáticas exigem mudanças também no nosso comportamento.

“Hoje, nós podemos ser surpreendidos por períodos de estiagem mesmo fora de época. Então, é necessário uma gestão estratégica dos reservatórios e um comportamento comedido por parte dos consumidores, que devem usar água racionalmente e também economizar energia elétrica. Porque, assim, nós estamos poupando água nos reservatórios e evitando um aumento de tarifa, por exemplo, com o uso mais intensivo das termelétricas”, afirma Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Jornal Nacional Foto Chesf