Artigo - O valor do símbolo

03 de May / 2024 às 23h00 | Espaço do Leitor

Tudo aquilo que nos cerca tem a sua dimensão simbólica. Desde a água na qual nos banhamos até os sinais com os quais nos comunicamos. Aliás, a função primordial do símbolo é comunicar. Tudo o que existe comunica. E, ao comunicar, reveste-se da dimensão simbólica.

O oposto do simbólico é o diabólico – aquilo que divide, que gera obscurantismo. Enquanto o simbólico comunica e une, o diabólico silencia e desagrega. 

A ausência do símbolo aponta para o completo esvaziamento do sentido da vida. Como ser cultural, a pessoa humana é alguém necessariamente aberto à perspectiva simbólica. Neste sentido, as manifestações culturais, que são tão inúmeras quanto diversas, assumem um papel de fundamental importância.

Muitos, porém, preferem minimizar a importância do símbolo, assumindo uma postura de todo reducionista – com preocupações puramente moralistas – em detrimento da larga complexidade que abarca a humana.

Tal atitude tem feito com que grandes fatias das nossas tradições culturais (ou simbólicas), principalmente aquelas situadas em regiões interioranas, sejam menosprezadas ou até mesmo deixem de existir.

No nordeste do Brasil é cada vez mais crescente o número de expressões culturais que são preteridas por conta da acachapante onda fundamentalista.

Manifestações populares – de matiz religioso ou não – como as festas de padroeiro, o samba de roda, o bumba-meu-boi, dentre outros, vão pouco a pouco perdendo sua força expressiva. 

Mas não só as manifestações ditas populares. Por toda parte, antigos espaços de cultura, como cinemas, teatros, rádios, tevês etc., são demolidos para ceder lugar a suntuosos templos religiosos.

Destruir tal capital cultural (e simbólico) significa, entre outras coisas, destituir o próprio ser humano do seu lastro afetivo e identitário, o que é grave e danoso.

Ou seja: quer minar o ser humano na sua essência, comece por destruir suas representações simbólicas.

José Gonçalves do Nascimento Escritor

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