Raul Seixas mantém 'idolatria' 30 anos após morte

21 de Aug / 2019 às 20h30 | Variadas

Há 30 anos o produtor musical Sylvio Passos se dedica a preservar em São Paulo o maior acervo que se tem conhecimento sobre Raul Seixas, morto no dia 21 de agosto de 1989 na capital paulista. São aproximadamente 5 mil objetos pessoais daquele que é considerado o "pai do rock brasileiro" (veja o vídeo acima). Sylvio tinha 17 anos quando conheceu o baiano Raul na capital paulista, em 1981. Queria contar a ele que criou o primeiro fã-clube para o músico. Teve a autorização do artista e, desde então, é presidente do Raul Rock Club.

Atualmente, ele também é detentor de tudo o que se possa imaginar que pertenceu ao astro: do primeiro violão que o cantor ganhou em Salvador, aos 9 anos de idade, até o pijama listrado que Raul usava quando foi encontrado morto, no apartamento onde morava no Centro da capital paulista. A lápide discreta de Raul Seixas, em Salvador, ainda recebe dezenas de fãs saudosos todos os anos. Mas, trinta anos após sua morte, completados nesta quarta-feira (21), a obra do Maluco Beleza - pioneira no rock brasileiro - não desperta tanto interesse na era do streaming, quanto as de outros ícones do gênero no país.

“A música de Raul é hereditária, passada de pai para filho. Apesar de isso não se refletir nos números, reflete no dia a dia.” Esses pais e filhos formam um "fenômeno raríssimo" na música popular, na opinião do pesquisador Ricardo Cravo Albin, que foi amigo do cantor. Ele cita Raul como um dos artistas brasileiros com mais associações e fã-clubes criados em sua homenagem. Ele define: "É o que eu chamo de idolatria póstuma."

"Poucos artistas no mundo tiveram o que Raul experimentou em termos de legado póstumo. No Brasil, nem mesmo os grandes mitos da era do rádio tiveram essa ardência da memória. São fãs absolutamente presentes e atentos, como eu nunca vi na música popular."

A primeira associação de fãs de Raul foi fundada em 1981. O Raul Rock Club se autointitula como o primeiro fã-clube brasileiro a editar um LP: "Let me sing my rock' n' roll" (1985), com pérolas do acervo do cantor.

Para Cravo Albin, um dos fatores que explicam a continuidade da adoração ao cantor é a "atualidade de seu comportamento, entre indignado e iconoclasta". "Os jovens da época absorveram isso, e passaram aos seus filhos."

A postura e a trajetória de Raul também ajudaram a torná-lo mais lembrado hoje em pesquisas no Google. Ele ganha de Cazuza e do Charlie Brown Jr. Perde apenas para o Legião em número de buscas nos últimos cinco anos.

No período, o pico de procura pelo nome dele foi em 2015, ano em que o cantor completaria 70 anos, e quando foi lançado “O baú do Raul – 25 anos sem Raul Seixas”. O álbum tem sucessos cantados por artistas como Tico Santa Cruz, Zeca Baleiro e Marcelo Nova.

Além dos álbuns de homenagens, Raul já foi lembrado no documentário “Raul - O início, o fim e o meio” (2012) e em mais de 30 biografias. “Nenhuma reproduz a verdadeira trajetória”, diz a filha do cantor, a DJ Vivi Seixas. Ela alfineta:

“Todas [as biografias foram] escritas por pessoas bem intencionadas - ou não - , mas poucas com qualidade e veracidade.”
Vivi ajuda a conservar o legado do pai através do próprio trabalho. Em 2013, lançou “Geração da luz - Clássicos de Raul Seixas metamorfoseados”, com remixes de canções dele.

Para a DJ, Raul deixou registrado um jeito único de fazer música, impossível de copiar. “Não posso apontar nenhum artista que tenha conseguido exprimir o estilo e a qualidade da obra do meu pai.”

Mesmo assim, sua influência acabou diluída pelo tempo no rock nacional, opina Santa Cruz. “As bandas que estão nascendo hoje estão expostas a uma diversidade musical maior. Os artistas mais novos são de uma geração que, talvez, tenha tido mais contato com os anos 90, alguns com os anos 80”, analisa o cantor.

“Se aparecesse um artista hoje com uma influência mais próxima do Raul, poderia chamar a atenção do público.”

G1 Bahia

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